quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

“TROPA DE ELITE” É O GRANDE VENCEDOR

“TROPA DE ELITE” É O GRANDE VENCEDOR DO XIII GUARANI

Campeão de público alcança o recorde de “Cidade de Deus”, conquistando nove prêmios

Após a conquista do Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim, o filme nacional mais visto em todo o Brasil no ano passado realizou outro feito impressionante. TROPA DE ELITE foi o grande vencedor do XIII Guarani – O Melhor do Cinema Nacional em 2007! O longa do diretor José Padilha foi vitorioso em nove categorias, igualando o recorde histórico de 2003, quando “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, também ganhou em nove Guaranis. “Cidade de Deus”, no entanto, continua na primeira posição, porque teve, na ocasião, 13 indicações, enquanto que TROPA DE ELITE somou 11 indicações neste ano.

TROPA DE ELITE foi escolhido como Melhor Filme, Direção, Ator, para Wagner Moura, Ator Coadjuvante, para André Ramiro, Edição, Trilha Sonora, Som, Efeitos Especiais e Melhor Filme segundo o Júri Popular. Esta foi a primeira vitória de Wagner Moura numa categoria de atuação (e terceira indicação). Ele ganhou, em 2004, o Guarani de Revelação do Ano por seu desempenho em “Deus é Brasileiro”. Esta foi a primeira indicação e a primeira vitória de André Ramiro. E esta foi a primeira vitória do diretor José Padilha, e sua segunda indicação (ele concorreu nesta mesma categoria em 2004 pelo documentário “Ônibus 174”).

O segundo filme mais premiado deste ano foi O CHEIRO DO RALO, de Heitor Dhalia. Indicado em 9 categorias, o filme ganhou os Guaranis de Direção de Arte, Figurino e Maquiagem. Depois vem SANTIAGO, de João Moreira Salles, indicado em seis categorias e premiado em duas: Documentário e Roteiro Original. BAIXIO DAS BESTAS, de Cláudio Assis, com 5 indicações, ganhou 2 Guaranis: Fotografia e Atriz Coadjuvante, para Dira Paes. Esta é a segunda vitória de Dira – ela ganhou em 2006, por “2 Filhos de Francisco”, também como Atriz Coadjuvante – e a quarta indicação dela.

Outro campeão de indicações neste ano, NÃO POR ACASO, lembrado em 9 categorias, ganhou o Guarani de Revelação do Ano, para o diretor Philippe Barcinski. Outros dois filmes conquistaram um Guarani: CÃO SEM DONO, de Beto Brant e Ricardo Ciasca, ganhou como Melhor Roteiro Adaptado, enquanto que SANEAMENTO BÁSICO, O FILME, de Jorge Furtado, foi escolhido como Melhor Atriz, para Fernanda Torres. Esta vitória é histórica: é o primeiro Guarani conquistado por Fernandinha, apesar de ser sua sexta indicação como Atriz Principal – ela concorreu também em 1996, 1998, 2000, 2001 e em 2006. Já o escolhido como Melhor Filme Estrangeiro de 2007 foi o francês PIAF – UM HINO AO AMOR, de Oliver Dahan. Apesar desta ser a sexta indicação da França ao Guarani, é a primeira vez que um filme deste país saiu vitorioso!

Confira abaixo a relação completa de premiados do XIII Guarani:

Melhor Filme: TROPA DE ELITE

Indicados: Cão Sem Dono, O Cheiro do Ralo, Não Por Acaso, Santiago

Melhor Direção: JOSÉ PADILHA (TROPA DE ELITE)

Indicados: Cláudio Assis (Baixio das Bestas), Heitor Dhalia (O Cheiro do Ralo), João Moreira Salles (Santiago), Paulo Morelli (Cidade dos Homens)

Melhor Documentário: SANTIAGO

Indicados: Hércules 56, O Mundo em Duas Voltas, Oscar Niemeyer - A Vida é um Sopro, Pro Dia Nascer Feliz

Melhor Ator: WAGNER MOURA (TROPA DE ELITE)

Indicados: Júlio Andrade (Cão Sem Dono), Leonardo Medeiros (Não Por Acaso), Rodrigo Santoro (Não Por Acaso), Selton Mello (O Cheiro do Ralo)

Melhor Atriz: FERNANDA TORRES (SANEAMENTO BÁSICO)

Indicadas: Debora Falabella (Primo Basílio), Maria Flor (Proibido Proibir), Mariah Teixeira (Baixio das Bestas), Tainá Müller (Cão Sem Dono)

Melhor Ator Coadjuvante: ANDRÉ RAMIRO (TROPA DE ELITE)

Indicados: Caio Junqueira (Tropa de Elite), Cássio Gabus Mendes (Batismo de Sangue), Lázaro Ramos (Ó Paí, Ó), Milhem Cortaz (Querô)

Melhor Atriz Coadjuvante: DIRA PAES (BAIXIO DAS BESTAS)

Indicadas: Andréa Beltrão (A Grande Família), Camila Pitanga (Saneamento Básico), Glória Pires (Primo Basílio), Silvia Lourenço (O Cheiro do Ralo)

Melhor Roteiro Original: SANTIAGO

Indicados: Baixio das Bestas, Cidade dos Homens, Não Por Acaso, Saneamento Básico

Melhor Roteiro Adaptado: CÃO SEM DONO

Indicados: Os 12 Trabalhos, O Cheiro do Ralo, Querô, Tropa de Elite

Melhor Edição: TROPA DE ELITE

Indicados: Cão Sem Dono, Cidade dos Homens, Não Por Acaso, Santiago

Melhor Fotografia: BAIXIO DAS BESTAS

Indicados: Cão Sem Dono, Cidade dos Homens, Não Por Acaso, Santiago

Melhor Trilha Sonora: TROPA DE ELITE

Indicados: Antônia, Cidade dos Homens, Ó Paí, Ó, Podecrer!

Melhor Som: TROPA DE ELITE

Indicados: Antônia, Cidade dos Homens, O Mundo em Duas Voltas, Ó Paí, Ó

Melhor Figurino: O CHEIRO DO RALO

Indicados: 1972, Batismo de Sangue, Podecrer!, Primo Basílio

Melhor Direção de Arte: O CHEIRO DO RALO

Indicados: Cidade dos Homens, Não Por Acaso, Primo Basílio, Saneamento Básico

Melhor Maquiagem: O CHEIRO DO RALO

Indicados: A Grande Família, O Homem que Desafiou o Diabo, Ó Paí, Ó, Primo Basílio

Melhor Efeitos Especiais: TROPA DE ELITE

Indicados: Cidade dos Homens, A Grande Família, O Homem que Desafiou o Diabo, Não Por Acaso

Revelação do Ano: PHILIPPE BARCINSKI (NÃO POR ACASO)

Indicados: Fernanda Paes Leme (Podecrer!), Maxwell Nascimento (Querô), Negra Li (Antônia), Sidney Santiago (Os 12 Trabalhos)

Melhor Filme – Júri Popular: TROPA DE ELITE

Indicados: O Cheiro do Ralo, A Grande Família, Primo Basílio, Saneamento Básico

Melhor Filme Estrangeiro: PIAF – UM HINO AO AMOR

Indicados: Conduta de Risco (EUA), C.R.A.Z.Y. (Canadá), O Passado (Argentina), The Bubble (Israel)

Participaram da votação do XIII Guarani 35 críticos de cinema, jornalistas, cineastas e cinéfilos de todo o país. Este foi um número recorde de participantes, nunca antes alcançado em 13 anos de premiação. Os votantes foram: Robledo Milani (TVCOM), Liandro Lindner (jornalista), Daniel Garcez (cinéfilo), Pablo Villaça (Cinemaemcena.com.br), Adriana Androvandi (Correio do Povo), Matheus Bonez (SBT), Paulo Angelini (Argumento.net), Anelise Silveira (RBS TV), Tarcísio Puiati (cineasta), Mariana Laviaguerre (jornalista), Ricardo Matsumoto (Revista Set), Marcelo Janot (Telecine), Carol Thomé (cineasta), Francisco Russo (Adorocinema.com.br), Ticiano Osório (Zero Hora), Paulo Neto (crítico), Lucas Gonzaga (Argumento.net), Camila Vieira (Jornal O Povo), Glênio Povoas (roteirista e pesquisador), Chico Izidro (Carta Capilé), Enéas de Souza (crítico), Roberta Pinto (Rádio Gaúcha), Adriano de Oliveira (Cinerevista.com.br), Daniel Feix (Zero Hora), Jaquelina Chala (FM Cultura), Daniel Bacchieri (ator), Marcelo Perrone (Zero Hora), Gustavo Fogaça (cineasta), Marcos Petrucceli (Epipoca.com.br), Carlos Reichenbach (cineasta), Marcelo Mugnol (Jornal Pioneiro), Isabella Nicolas (jornalista), Jair Giacomini (cineasta), Fabian Ponzi (videodesigner) e Aurora Miranda (jornalista).

TROPA DE ELITE: Filme, Direção, Ator, Ator Coadjuvante, Edição, Som, Trilha Sonora, Efeitos Especiais, Filme – Júri Popular

O CHEIRO DO RALO: Figurino, Direção de Arte e Maquiagem

BAIXIO DAS BESTAS: Atriz Coadjuvante e Fotografia

SANTIAGO: Documentário e Roteiro Original

CÃO SEM DONO: Roteiro Adaptado

NÃO POR ACASO: Revelação do Ano

SANEAMENTO BÁSICO: Atriz

PIAF – UM HINO AO AMOR: Filme Estrangeiro








sábado, 16 de fevereiro de 2008

SEXO COM AMOR?

SEXO COM AMOR?, filme que marca a estréia no cinema do diretor de televisão Wolf Maya, é um remake de uma produção de mesmo nome feita no Chile em 2003. Se o original já era bastante irregular, imagine só esta nova versão! Sem esconder suas origens melodramáticas e televisivas, o longa é mais um pastiche de algo que poderia ter sido, desprovido de ritmo, de boas atuações ou de uma mão segura que o orientasse num caminho específico. Como resultado temos algo sem rosto nem coração, carente de qualquer maior interesse além do mero voyerismo característico do público mediano brasileiro.

O longa chileno tinha como protagonista uma professora de ensino médio que estava tendo um caso com o pai de um dos alunos. Enquanto isso, ela tentava descobrir como unir verdadeiro amor ao prazer do sexo. Este personagem, vivido agora por Caroline Dieckmann (uma das poucas com algo a mostrar em cena), virou praticamente um coadjuvante. Ao invés de centrar sua atenção no desenrolar desta história, o roteirista (Rene Belmonte, de SEXO, AMOR E TRAIÇÃO e SE EU FOSSE VOCÊ) preferiu dividir o foco em diversas tramas paralelas, que ao mesmo tempo em que distraem o espectador dos erros mais evidentes, também diluem uma avaliação mais precisa, uma vez que nenhum destes "sub-enredos" é atrativo o suficiente.

O amante da professora (José Wilker, que atua como se tivesse acordado 10 minutos atrás e não soubesse onde se encontra) é um apresentador de televisão e guru sentimental. O casamento dele (com Marília Gabriela, quase numa participação especial) é um fracasso, e parece que só ele não percebe. Há também o empresário garanhão (Reynaldo Gianecchini, que após PRIMO BASÍLIO e AVASSALADORAS comprova de vez que não tem cinema nas veias) e infiel, num ataque de ciúmes pela esposa grávida (Malu Mader, discreta e com poucas opções). O núcleo cômico é proporcionado por um casal suburbano (vamos rir dos pobres!) interpretado por Eri Johnson (exagerado, como sempre) e Maria Clara Gueiros (uma comediante um tanto repetitiva, mas provavelmente subaproveitada). A sobrinha dela vai visitá-los e começa a tentar o tio. Alguma lembrança de "Lolita"? Original, não?

Idealizado para ser o "filme nacional do verão 2008", ou seja, um típico produto para consumo imediato, sem cuidado ou carinho, felizmente acabou sendo literalmente atropelado pelo superior MEU NOME NÃO É JOHNNY, um longa que também atende à certas necessidades do mercado, porém cercado de méritos que despontam facilmente numa primeira análise. SEXO COM AMOR?, por outro lado, é pura bobagem descartável, vergonhoso para um país que procura construir uma cinematografia respeitável e busca o entendimento e apoio do próprio público. Não é orgânico como um A GRANDE FAMÍLIA, muito menos relevante quanto um LISBELA E O PRISIONEIRO. É desperdício, puro e simples, e como tal deve ser tratado. Merece o lixo!

Sexo com Amor?, Brasil, 2008
(nota 3)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

MEU NOME NÃO É JOHNNY

O cinema brasileiro começou 2008 com o pé direito. E o responsável por esta mudança de ares é MEU NOME NÃO É JOHNNY, um filme longe de ser inesquecível, porém dotado de muitos méritos. Depois de um ano bastante complicado (apenas dois sucessos verdadeiros, TROPA DE ELITE e A GRANDE FAMÍLIA, e um mediano, PRIMO BASÍLIO), a produção verde-e-amarela parece se reencontrar com o público neste longa que, além de não se apoiar num veículo televisivo prévio, tem a felicidade de estar baseado numa história real e contemporânea. Se o primeiro fato já está virando lugar comum entre nós, o segundo dado é uma novidade que merece ser comemorada.

Dirigido por um surpreendente Mauro Lima (TAINÁ 2), MEU NOME NÃO É JOHNNY levou, em cerca de um mês em cartaz, mais de 1 milhão e 500 mil espectadores aos cinemas de todo o país - um feito e tanto! E se Selton Mello não está nos seus melhores trabalhos (muito distante de desempenhos impressionantes como O CHEIRO DO RALO ou LAVOURA ARCAICA), ao menos se defende com respeito como protagonista. Seu João Guilherme Estrella vai do céu ao inferno, do paraíso sem limites da classe média rica com as drogas até o desespero caótico da prisão num hospital psiquiátrico onde foi obrigado a cumprir sua pena. E o que teria feito ele? Meio que ao acaso, levado pelas circunstâncias, João virou Johnny, rei do tráfico no cimento, longe do morro, entre os playboys da zona sul carioca. E depois de circular por Barcelona e Veneza e ousar conexões internacionais, acabou pego de forma quase amadora, obrigando-se a se redimir perante a sociedade.

MEU NOME NÃO É JOHNNY não quer ser um CIDADE DE DEUS ou um TROPA DE ELITE (apenas para citar dois exemplos de grande destaque que também abordam a influência das drogas no universo do jovem brasileiro). Ele pretende apenas relatar a trajetória de um homem que teve tudo da forma errada e recebeu a oportunidade de começar de novo após ser obrigado a admitir seus erros. Não o melhor dos exemplos, mais ainda assim um recado de grande valia. Quantos outros seguiram pelo mesmo caminho e se perderam sem conquistar uma chance similar?

Mas além disso, felizmente MEU NOME NÃO É JOHNNY consegue também se posicionar no parâmetro artístico e cinematográfico. Se o desempenho dos atores é irregular - Cléo Pires é um erro e Julia Lemmertz está perdida, enquanto que Cássia Kiss rouba cada instante do pouco tempo que tem em cena, assim como Flávio Bauraqui - a direção é segura, e tem plena consciência para onde melhor seguir. Mas o mérito maior é o roteiro enxuto escrito pelo diretor em parceria com a também produtora Mariza Leão (GUERRA DE CANUDOS, ZUZU ANGEL), que abrange os principais momentos da história a ser contada, porém sem se perder demais em cada um deles, preocupando-se mais com os reflexos deles nos persoangens do que nas circunstâncias em si. Isso permite um ganho em dramaticidade e num maior envolvimento do público.

Baseado no livro de Guilherme Fiúza, MEU NOME NÃO É JOHNNY é uma produção cara - cerca de R$ 6 milhões - e típica obra de produtor, que segue um modelo consagrado nos Estados Unidos. Como funcionou com ótimos retornos de público e crítica, seria ele, portanto, direcionador de uma nova estrutura a ser seguida cada vez mais no cinema nacional? Talvez. Mas o principal são os bons créditos que giram ao seu redor. E quando os ingredientes são de qualidade é mais fácil acertar o bolo, não é mesmo?

Meu Nome Não é Johnny, Brasil, 2007
(nota 7,5)