sábado, 5 de janeiro de 2008

PRIMO BASÍLIO

É complicado saber por onde começar ao falar dos problemas de PRIMO BASÍLIO, oitavo filme dirigido por Daniel Filho e o quinto feito por ele desde a retomada de sua carreira cinematográfica, no início dos anos 2000. Depois de algumas experiências esparsas nos anos 60, 70 e 80 (até filme dos Trapalhões ele dirigiu) e muito trabalho em televisão, com a virada do século decidiu se dedicar exclusivamente à sétima arte. E desde então vem alternando sucessos de público (SE EU FOSSE VOCÊ, 2006), de crítica (A DONA DA HISTÓRIA, 2004) e até um fracasso (MUITO GELO E DOIS DEDOS D'ÁGUA, 2006). Mas, acima de tudo, eram comédias. E PRIMO BASÍLIO aposta noutro caminho, o drama, e o resultado é bastante problemático.

Poucos são os que desconhecem a trama de "O Primo Basílio". Baseado no romance do escritor português Eça de Queiroz, foi adaptado há 20 anos numa minissérie da Rede Globo, que tinha Tony Ramos, Giulia Gam, Marcos Paulo e Marília Pêra no elenco principal. Na direção, o mesmo Daniel Filho. Pois agora o que parece é que estas duas décadas fizeram mal para ele, que aparenta ter desaprendido como lidar com a dramaticidade da história. Reynaldo Gianecchini, Debora Falabella, Fábio Assunção e Glória Pires substituem os protagonistas, obviamente elas com um desempenho muito superior ao deles. Mas isso pouco importa no final das contas, já que a direção privilegia sempre o desenrolar atabalhoado do enredo, sem tempo para qualquer respiro, seja do personagem ou mesmo do ator por trás deste.

Sai a Lisboa do final do século XIX e no lugar está a São Paulo de 1958. Jorge (Gianecchini) é um engenheiro contratato para trabalhar na construção de Brasília, e por isso precisa viajar, deixando Luísa (Falabella), sua mulher, sozinha. Ela passa a receber a visita do primo Basílio (Assunção), que está de volta à cidade após uma temporada na Europa. Os dois logo se tornam amantes, o que vem a ser descoberto pela empregada Juliana (Pires). Esta, de posse de cartas reveladoras, passa a chantagear a patroa. E a relação que até então existia entre as duas se inverte, dando início ao calvário de uma e da descoberta do paraíso pela outra.

Se em A DONA DA HISTÓRIA ou em A PARTILHA (2001) Daniel Filho conseguiu conciliar um argumento de sucesso comprovado com um elenco que reunia talento e apelo popular, esta mesma fórmula revelou-se parcialmente desnecessária em SE EU FOSSE VOCÊ (que, apesar de abusar dos clichês, se tratava de um roteiro original). MUITO GELO foi um alerta, mostrando os perigos de ser tão autoral. A DONA teve 1,2 milhão de espectadores, PARTILHA mais de 2 milhões e SE EU FOSSE VOCÊ quase 3,5! MUITO GELO não chegou aos 500 mil espectadores, número que PRIMO BASÍLIO deve superar com tranquilidade. Mesmo assim não deve registrar nada muito superior. Gianecchini e Assunção são lindos, assim como Falabella, mas isso não basta, certo? Afinal, quem já não os viu seminus na telinha? E Glorinha, de quem se esperava uma grande atuação, passa o tempo todo limitada pela peruca, maquiagem pesada e figurino apertado.

Com enquadramento muito pouco criativo, edição convencional, cenário pobre e efeitos visuais constrangedores (o que são as cenas da cidade antiga?), PRIMO BASÍLIO abusa ainda do voyerismo (o sexo entre Assunção e Falabella é tão abusivo que perde o sentido inclusive dentro da proposta cinematográfica) e da falta de controle dos atores: Falabella, a melhor em cena, está sempre no limite, carecendo de uma orientação mais precisa. O que resta é uma obra sem fôlego, previsível desde a primeira cena e que tem uma conclusão absurda, inverossímil diante a nossa realidade. Um desastre anunciado, que somente se confirma com pior desdém a cada fotograma.

Primo Basílio, Brasil, 2007
(nota 3,5)

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