sábado, 5 de janeiro de 2008

O MUNDO EM DUAS VOLTAS

O documentário nacional tem se revelado, nos últimos tempos, como um campo fértil para as mais diversas experimentações. Há os tratados históricos ("Cartola"), políticos ("Pro Dia Nascer Feliz"), entrevistas ("Oscar Niemeyer - A Vida é um Sopro"), esportivos ("Inacreditável - A Batalha dos Aflitos") e reveladores ("Estamira"). Faltava apenas os turísticos, de descobertas transformadoras. Isso, claro, até o lançamento de O MUNDO EM DUAS VOLTAS, o relato da aventura da Família Schürmann, que no final da década de 90 repetiu os passos do navegador português Fernão de Magalhães na primeira volta ao mundo, no início do séc. XVI.
Eles saíram do Brasil, contornaram a Patagônia, entraram Oceano Pacífico adiante, foram até a Ilha da Páscoa, costearam várias ilhas da Oceania, passaram pela África, subiram até Portugal e Espanha, para somente aí, quase três anos depois, retornarem à nação verde-e-amarela. Uma travessia bastante singular, que trouxe consigo diversas revelações e novidades.

A realização de O MUNDO EM DUAS VOLTAS tomou um período de 10 anos, entre concepção da idéia, execução do percurso e pós-produção. Durante a viagem o veleiro Aysso percorreu mais de 30 países, quatro continentes e três oceanos. Foram cerca de 60 mil quilômetros em 891 dias de viagem. E quem coordenou as filmagens foi um dos filhos do casal Schürmann, David. Ele, que já havia vivido no mar dos 10 aos 15 anos ao lado dos pais Vilfredo e Heloísa, estudou cinema e televisão na Nova Zelândia e estréia como diretor neste projeto. Ele apresenta um resultado bastante positivo, principalmente visando o lado cultural e curioso, deixando o cinematográfico num segundo plano, aproximando-se mais de uma grande reportagem ou de um vídeo familiar.

O documentário pode ser acompanhado como uma história de ficção. O espectador é colocado ao lado dos navegadores na estranheza do frio do sul, deslumbra-se com as belezas naturais do oriente e encanta-se com cada nova descoberta, assim como se espanta com os costumes exóticos e com os perigos enfrentados. Desse modo, o filme basta-se satisfatoriamente. Enquanto cinema, por outro lado, não apresenta nada de novo ou extraordinário. Como disse o próprio produtor Fabiano Gullane, durante o lançamento do filme em Porto Alegre, "este longa foi feito para o público, e não para a crítica".

Sendo assim, espera-se que aquele que se aventurar pelos mares de O MUNDO EM DUAS VOLTAS fique tão envolvido pelo que vai sendo vislumbrando nesta fantástica jornada quanto a própria Família Schürmann. Narrado na primeira pessoa pelos próprios protagonistas, o filme ganha com o paralelo traçado à viagem de Magalhães, através das belas ilustrações de Laurent Cardon e pelo competente, principalmente por ser bastante simples e direto, roteiro de Luis Bolognesi (BICHO DE SETE CABEÇAS). Sem muitos rodeios, nós próprios somos levados nesta aventura. O que se faz aqui é, sim, uma volta ao mundo cultural, turística, histórica e reveladora. Não é muito cinema, mas quem foi que disse que isso chega a ser um pecado?

O Mundo em Duas Voltas, Brasil, 2007
(nota 7,5)


Nenhum comentário: